A placa de aluga-se acabou de ser colocada
no apartamento. Mas o texto não é apenas sobre mudanças físicas e de espaço, afinal, toda mudança, gera mudança.
Confesso que foi uma mistura de
sentimentos. Por um lado fico feliz em mudar, pois o lado prático da vida está
difícil, afinal, o espaço foi ficando pequeno a medida em que as
crianças foram crescendo. Mas por outro lado, este lugar, foi mais que um
simples apartamento alugado na Suíça, ele foi o início de uma estabilização
familiar, ou a tentativa "de".
Explico:
Para quem acompanha o blog, sabe que
tivemos, no início da adoção, uma adaptação com as crianças no Brasil e outra na Noruega. Ambas em um
período total de sete meses, então, apesar de todo nosso esforço em estreitar
vínculos com nossos filhos (na época "Tom" tinha quatro anos e "Jobim", dois
anos e meio), tínhamos a preocupação em apresentar-lhes um lugar pra “chamar de nosso”.
_”Esta é a NOSSA casa, este é o quarto de
vocês…”
Então, assim que nos mudamos para a Suíça,
a pressa determinou o destino.
Vimos alguns apartamentos antes deste que dentre
tantas opções, ora era pequeno, ora era muito caro, ora era afastado de tudo e
ao chegar neste aqui, sentimos que era o suficiente para começar uma
história.
Nos mudamos, colocamos uma plaquinha decorativa com o
nome deles na porta do quarto e conseguimos muitas proezas nos últimos dois anos. Foram muitas
visitas que ficaram apertadinhas, muita farra com amiguinhos que vieram almoçar e brincar conosco após a escola e "Tom" teve seu aniversário de seis anos feito
aqui, foi só arrastar móveis e criar um layout possível para tamanha felicidade.
E os vizinhos?
Aqui na Suíça, conhecemos muitas histórias
de vizinhos que chamam a polícia por tudo (inclusive por barulho de aspirador
de pó aos domingos e descargas após às 22h) e nós, durante dois anos, morando no primeiro
andar (não é térrreo), nunca tivemos nenhuma reclamação. Nadinha mesmo.
Usamos o espaço comum do prédio com nosso
pula-pula, montamos uma trave para jogar futebol, fizemos boneco de neve… foram
tempos muito bons e dividindo espaços com suíços. Tivemos sim, um acidente de percurso
(pago por nosso seguro), uma vez que o caçula jogou uma pedrinha em um foço, ela
quicou e caiu em cima do capô do Porsche do vizinho… $$$$$$ mas, C’est la vie!
Mas chega um momento em que temos que tomar
uma decisão e muitas vezes, esta exige o desapego, o despreendimento de algo
que é bom ou muito bom. A mudança vai além do aspecto físico, ela gera outras mudanças internas.
Onde moramos atualmente, a vista é linda, um presente aos
olhos, mas é privada de transporte público de fácil acesso, a escola é longe e não
consigo ir caminhando com as crianças, pois são 25 minutos de caminhada para
perninhas tão pequenas e diga-se de passagem que os horários aqui são
diferentes do resto do mundo, só pra lembrar:
Das 8h35 às 11h10;
Os filhos almoçam em casa;
Retornam às 14h15 até 15h45.
Conversa ao pé do ouvido: Na minha opinião, isto é muito bom para as crianças, sem dúvida. Tirando o fato de que o horário de almoço é demasiadamente longo, temos a oportunidade de ver e curtir de perto a infância. Mas a minha crítica é quanto à organização dos
horários escolares, que nada mais é que o fruto de uma mentalidade ainda machista, de
um país que deu o direito ao voto para as mulheres apenas em 1957. O horário engessa e dificulta a tentativa de inserção das mulheres/mães
no mercado trabalho, mesmo em porcentagens de carga horária menores, o que é um absurdo.
Mas, voltando ao tópico "mudança", pedimos à comuna local que nossos filhos permaneçam na mesma escola onde estão matriculados até o fim do ano letivo (junho/2013), o que gera mais uma vez, outros desafios, principalmente para a mãe (moi!!). Estaremos mais longe desta escola, porém, por seis meses apenas. Apesar dos pensamentos feministas que insistem em me questionar o tempo todo,
sou Mãe, com M maiúsculo. Minha prioridade agora, são meus filhos e não quero dar margem ao mi mi mi, pois
esta, definitivamente, não sou eu.
Já estou me programando para os próximos seis meses de modo que tudo
caminhe dentro daquilo que considero bom pra todos, inclusive pra mim. “Óhia”!!
O plano, para este período, é o seguinte:
- 1. A limpeza da casa ou a "casa
perfeita" (vulgo, casa de revista), vai ficar pra história. Roupa
limpa, comida BIO e BOA, felicidade geral da nação e uma mãe sem neurose e
linda. Estas sim, são as prioridades!!
- 2.
Para não ficar no vai e volta
interminável: casa/escola, escola/casa,
casa/escola, escola/casa (8 ways), me munirei de muita roupa anti-chuva, anti-neve, anti-preguiça e tentarei caminhar e correr pelo menos dois dias da
semana, no período da manhã, lá pelos arredores da escola mesmo. Assim, não preciso ficar no bate-volta. O serviço de casa que espere!!
- 3.
Eu mesma faço minhas unhas
(MUACK!! beijo no ombro, eu me amo!!) e continuarei sempre assim, até encontrar uma
manicure que cobre muito menos que R$110,00 e nem tira a cutícula. Alguém??
- 4.
Derrota passa longe daqui
gente. Odeio verdadeiramente este sentimento. Repudio. Posso estar triste,
morrendo de saudade da família, frustrada, cansada… mas tô de batom. E sabe quando isso
começou a ganhar força??? Com os filhos meninOs. Se eles me vêem sem batom, sem
esmalte (COLORIDO) nas unhas, vão logo me cobrando. Filhos gostam de ver pais felizes
gente, já perceberam?
- 5. O valor da mudança na Suíça é caro, como tudo por aqui. Em uma curta distância, eles nos pediram a equivalência de R$ 3.400,00,
mais as taxas. É o preço e todos sabem que a Suíça é um dos países mais caros da
Europa. Então, para não ficar muito mais caro que isso, me
responsabilizei em embalar as miudezas. E como juntamos bugigangas, socorro!! Uma boa hora para a faxina interna também. Jogar fora tudo aquilo que não nos faz bem, sentimentos penosos que nada acrescentam e mágoas que nos adoecem. Tudo vai para o lixo. Oremos!!
- 6.
“All we need is less”, este é
meu lema para 2013. Estou doando,
vendendo e simplesmente me desapegando de muitas coisas. Menos é Mais!!!
Enfim, mudanças não acontecem apenas fora
da gente.
Se permitimos que nosso olhar vá mais
longe, acabamos por aprender muito com os outros. Aprendemos até o que não
fazer, não é mesmo?
Penso que re-significar algo que vivemos
também é muito válido para a ocasião. Seguir adiante na certeza de que felicidade não se tem o tempo
todo e ela não vem amanhã, se Deus quiser. Felicidade se constrói com as pequenas atitudes que
tomamos no dia-a-dia. E eu tento, nossa, se eu tento.
Por exemplo, não sou ativista, mas neste blog luto sim para ser respeitada e ter o respeito que meus filhos merecem, pois ainda existe muito preconceito sobre adoção. Se eu me deixasse abater pelas besteiras que leio, que escuto... Se soubessem o quanto me revolta
ler uma notícia com títulos iniciados desta forma: “Filho adotivo pega o carro dos pais…” Dias atrás, uma pessoa que não sabia que eu era mãe adotiva, disse:
_..."Ah, sim. Eu conheço uma pessoa que... mas seu filho é adotivo (bem pejorativo), então, já sabe, né?...
E como este, existem tantos outros comentários cruéis, que só sabe, quem vive.
MAS!!!!! Veja bem, comentários como estes, que me revoltam, não me desqualificam, não me derrubam. Pelo contrário, são um grande alfinete que me cutuca a continuar. Firme e Forte, pra Frente.
Mas eu sei. Assim como a história do mundo muda constantemente e exigem que mudemos também, as mudanças vão aos poucos acontecendo dentro da gente. Mudar gera desconforto, mas é necessário. Não é fácil enxergamos a realidade e a vida longe de nosso umbigo e daquilo que julgamos
entender.
E a gente tenta, né? Que assim seja.
"Bora", trabalhar gente. Tem um monte de caixa me olhando aqui com cara de "E aí? Vai demorar com o devaneio?"
Bisous, fui!!